O Coronel de Macambira (2009)


No teatro, ao vento e na rua


Depois de nossa mágica apresentação de “O Coronel de Macambira” em São Joaquim, escrevi esse poema que dedico, primeiramente a todo nosso elenco, e a todos meus colegas atores.
“Quando se faz teatro na rua, tudo é trazido pelo vento.
A dificuldade da fala, que mesmo pra ser mansa e calma, tem de ser alta.
Pra competir com a fala do vento que derruba o cenário, levanta as roupas e agita as saias.
É o mesmo vento que traz as risadas, os comentários de quem vê, as palmas.
É o vento que quando bate na cara do ator, ainda que levando poeira e, aos olhos ardor,
também fixa uma imagem na memória, em forma de uma temperatura, de um momento, de um odor.
Nos fazendo lembrar nossos antepassados que faziam teatro de rua, não por estilo, mas como única opção: levar o que se sabe fazer até. Carregar seu dom, seus adereços, sua arte a pé.
Tão diferente do teatro da caixa, onde as dificuldades são outras. Como também o som das risadas, das palmas é outro. Até o som do silêncio é outro.
Na rua, ele é marcado pelo solilóquio do vento, a parte em que só o vento fala e só ele é ouvido.
E ele parece uivar, que naquele momento, a platéia está refletindo, pensando, lembrando, sentindo.
E esse mesmo vento que trouxe as dificuldades de outrora, na filmagem, faz o papel de guardião do agora.
Não permite que usufruam aqueles que ficaram de fora. Faz ruído ao pé da câmera, cobre com seus milhões de dedos o rito quase sagrado da arte ao vivo.
A realidade viva, nua e crua do teatro de rua.”

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